Neogótico com toque renascentista

A origem da Catedral Metropolitana N. Sra. da Assunção e São Paulo, a Catedral da Sé, remonta a 1591, quando foi erguida no mesmo local a igreja matriz da Vila de São Paulo do Piratininga. A construção colonial era proporcional à importância da provinciana vila em que estava inserida, muito antes da pujança que transformaria São Paulo na metrópole pós-café. Era feita de taipa de pilão e dedicada a Nossa Senhora da Assunção. O terreno havia sido escolhido pelo cacique Tibiriçá, um dos principais personagens da história paulista, convertido ao catolicismo. Com a transformação da vila em cidade, no século 18, a Capitania de São Paulo tornou-se sede Episcopal e, com isso, a matriz foi mais valorizada. Entretanto, a igreja antiga já estava bastante comprometida e acabou sendo demolida para o início da construção do templo que vemos hoje.

A construção monumental, de estilo neogótico, foi erguida entre 1913 e 1954, com projeto do engenheiro e arquiteto alemão Maximilian Hehl, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Ele desenhou um santuário em estilo eclético, com elementos predominantemente góticos, como os arcos ogivais e os ornamentos. A cúpula octogonal, no entanto, destoa do conjunto gótico ao inspirar-se na icônica cúpula renascentista do Duomo de Florença, projetada por Filippo Brunelleschi.

As duas guerras mundiais atrapalharam o andamento das obras, uma vez que grande parte dos materiais e artefatos era importada da Europa. O santuário foi inaugurado na data de celebração do 4º Centenário de São Paulo.

A Catedral tem dimensões semelhantes às da Abadia de Saint-Denis, na França (primeira construção considerada gótica no mundo), e ocupa um quarteirão inteiro. Suas oito portas de jacarandá da Bahia foram executadas pelos profissionais do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. A fachada recebeu uma grande rosácea em vitral e é ladeada por duas altas torres. O carrilhão de sinos de bronze das torres é um dos maiores do Brasil, com 61 sinos, sendo 35 acionados eletronicamente.

O mobiliário acompanha o estilo revivalista neogótico e foi produzido nas oficinas de marcenaria do Liceu. Com projeto do arquiteto Anhaia Mello, segundo registro de Ana Belluzzo (1988), o par de púlpitos de madeira é essencial para a organização do espaço interno da nave. A serralheria artística do Liceu atuou na produção dos caixilhos de ferro, lustres de bronze e na cúpula. A estatuária de madeira nasceu das mãos de Marino del Favero.

Para os observadores de olhar aguçado, pode-se perceber a intenção de Hehl de exaltar a brasilidade respeitando o revivalismo gótico. Na arcada que emoldura a porta principal estão flores de maracujá e grãos de café, dentre outras representações da natureza encontrada no Brasil. Nos capitéis do átrio, a fauna brasileira é representada por garças e tatus, dentre outros animais.

A igreja tem forma de cruz latina, com cinco naves e transepto com cúpula sobre o centro do cruzeiro. Os vitrais e mosaicos são destaques à parte. Os mosaicos foram obra do muralista italiano Marcello Avenali. Alguns dos vitrais foram desenhados por José Wasth Rodrigues e executados pela Casa Conrado. Outros são de fabricação europeia, feitos por artistas como Max Ingrand e Gilda Nagni.

A cripta foi inaugurada em 1919 e contém 30 câmaras mortuárias. Além dos bispos e arcebispos, estão guardados ali os restos mortais do cacique Tibiriçá e do padre Feijó, Regente do Império. No começo do século 21, o templo passou por restauro e, em 2002, foi reaberto para visitação e serviços religiosos. Durante um processo de restauração, as torres principais receberam 14 pequenos torreões secundários, já previstos no projeto original.