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Edifício Alexandre Mackenzie Edifício Alexandre Mackenzie, Light Power Company, 1929

Referência paulistana

Novo uso para o antigo prédio da Light

Quem frequenta o Theatro Municipal, ou o Vale do Anhangabaú, não deixa de notar o imponente prédio com toldos vermelhos na rua Coronel Xavier de Toledo, à beira do Viaduto do Chá. O Edifício Alexandre Mackenzie é parte marcante da paisagem urbana de São Paulo desde 1929, quando o imóvel ganhou este nome em homenagem a um diretor da The São Paulo Tramway, Light and Power Company, que se instalou na cidade em 1899. O constante crescimento da empresa de fornecimento de energia elétrica obrigou sua transferência para áreas cada vez mais amplas, o que a levou a adquirir o antigo Theatro São José para abrigar sua sede.

Com projeto dos arquitetos norte-americanos John Pollock Curtis e William P. Preston, a construção em estilo eclético levou quatro anos para ser concluída pelo escritório Severo, Villares & Cia, do engenheiro e arquiteto Ramos de Azevedo. A parte interior recebeu trabalhos de serralheria e marcenaria executados pelos artesãos do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.

Edifício Alexandre Mackenzie
Construção:
1925-1929
Estilo:
Eclético, Neoclássico
Projeto:
John Pollock Curtis, William P. Preston
Localização:
Rua Coronel Xavier de Toledo, 23 – São Paulo, SP

O Edifício Alexandre Mackenzie teve seu projeto encomendado pela São Paulo Tramway, Light and Power Company a um escritório meio canadense, meio norte-americano, em 1922, denominado Preston & Curtis, desaparecido na década de 30. Teve seu detalhamento desenvolvido no Brasil bem como a sua construção realizada pelo Escritório Técnico Ramos de Azevedo. A obra teve início em 1926 e essa primeira fase foi concluída em 1929.

(FAGGIN, C. M. 2001, p. 6)

O layout geral do edifício é de planta livre, o que permite uma adequação permanente dos espaços funcionais às necessidades de operação. Diferia do conjunto o andar térreo da Rua Xavier de Toledo, onde se localizavam os guichês de pagamento das contas, portanto o único pavimento ao qual o público tinha acesso. O térreo possuía um pé-direito mais elevado, em torno de seis metros, contra aproximadamente quatro dos demais pavimentos. Tinha também uma carga bastante grande de ornamentos colocados nos próprios componentes arquitetônicos, como pilares, vigas, lajes, forros e paredes, essas revestidas com lambris de madeira muito bem executados.

Edifício Alexandre Mackenzie
Edifício Alexandre Mackenzie

O estilo do conjunto pode ser considerado como eclético dentro de uma linha de desenho do ecletismo norte-americano característica do enobrecimento que se procurou dar às primeiras obras verticais levantadas em Chicago e em Nova Iorque. Não era esse nem o maior, nem o mais alto prédio existente em São Paulo naquela época, mas marcou o sítio e ficou até hoje como um endereço famoso da cidade.

O edifício foi a sede da companhia de energia até o final da década de 1970, época em que as pessoas ainda precisavam ir até lá para pagar a conta de luz. Em 1981, a Eletrobrás adquiriu o controle societário da Light – o estado de São Paulo comprou a parte paulista da empresa e fundou a Eletropaulo, que passou a ocupar o local. A estatal existiu até 1997, quando foi privatizada, transformando- se na AES Eletropaulo.

Sua estrutura foi executada em concreto armado, com um grande desperdício de material e, como se pode verificar, sem obedecer a nenhum tipo de malha regular de lançamento estrutural. Também chama a atenção o fato de as seções dos pilares serem irregulares quanto à sua área. Aparentemente podemos hoje deduzir que tratou o escritório técnico de solidificar o partido adotado pelos arquitetos da América do Norte, sem questionar as ideias originais. Da mesma maneira nota-se que os pés direitos entre os vários pisos existentes já naquela fase são todos diferentes entre si, não há dois iguais. Por isso mesmo as lajes também possuem espessuras variadas, diferenças essas notadas nas camadas de nivelamento e nos contrapisos. Essas lajes são caixões perdidos preenchidos com perfis metálicos obtidos com flandres dobradas, onde corriam as instalações elétricas.

(FAGGIN, C. M. 2001, p. 6-7)

O volume construído então tinha três frentes: Xavier de Toledo, Viaduto da Chá velho e Rua Formosa, ocupando principalmente o terreno do antigo Teatro São José. Ramos de Azevedo, faleceu em 1928, não tendo por isso visto a obra terminada.

(FAGGIN, C. M. 2001, p. 6)

O estilo do conjunto pode ser considerado como eclético dentro de uma linha de desenho do ecletismo norte- -americano característica do enobrecimento que se procurou dar às primeiras obras verticais levantadas em Chicago e em Nova Iorque. Não era esse nem o maior, nem o mais alto prédio existente em São Paulo naquela época, mas marcou o sítio e ficou até hoje como um endereço famoso da cidade.

Edifício Alexandre Mackenzie
Edifício Alexandre Mackenzie

O Liceu contribuiu sobremaneira para a construção do Edifício Alexandre Mackenzie, com a produção de serralheria para os fechamentos da caixilharia. O trabalho de ferro forjado dos elevadores é outra joia produzida pela instituição, preservada após o retrofit.

Edifício Alexandre Mackenzie
Edifício Alexandre Mackenzie
Edifício Alexandre Mackenzie
Edifício Alexandre Mackenzie

Majestoso, à margem do Viaduto do Chá, o edifício Alexandre Mackenzie divide espaço com outros prédios icônicos, como a sede da Prefeitura Municipal de São Paulo (antigo Edifício Matarazzo), Palácio do Anhangabaú, projetado por Severo & Villares com revisão do arquiteto italiano Marcello Piacentini e aberto no final da década de 1930. No lado oposto da Rua Xavier de Toledo está o Edifício João Bricola, exemplar Art Déco de Elisiário Antônio da Cunha Bahiana, que desenhou o próprio Viaduto do Chá em mesmo estilo.

Ainda no período da Eletropaulo, em 1984, o Edifício Alexandre Mackenzie foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat). Com a extinção da Eletropaulo, em 1999, o prédio passou por restauro e uma intervenção de retrofit para adequação de uso e, desde então, abriga o Shopping Light. O projeto de recuperação e adaptação foi conduzido pelo arquiteto Carlos Faggin.

Ainda no período da Eletropaulo, em 1984, o Edifício Alexandre Mackenzie foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat). Com a extinção da Eletropaulo, em 1999, o prédio passou por restauro e uma intervenção de retrofit para adequação de uso e, desde então, abriga o Shopping Light. O projeto de recuperação e adaptação foi conduzido pelo arquiteto Carlos Augusto Mattei Faggin, que apresentou os detalhes da intervenção em sua tese de livre-docência na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design da Universidade de São Paulo, em 2001. O centro de compras surgiu por meio de um consórcio com um fundo de investimentos que ganhou a concessão do imóvel por um período de 50 anos. Desde 2015, quem administra o Shopping Light é a holding israelense Gazit.

Na época da reconversão do edifício em centro comercial, a revista Arquitetura e Urbanismo, da Editora Pini, publicou reportagem sobre a ambiciosa intervenção no prédio da Light. “Os elementos de acabamento e decoração foram executados pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo”, ressalta a publicação.

A reconversão do edifício e seu anexo em um centro comercial e cultural é, neste momento, o principal projeto em andamento do escritório [Faggin & Slemenson], responsável pelo desenvolvimento do projeto arquitetônico da reforma, pela aprovação do projeto nos diversos órgãos competentes e pela coordenação dos projetos técnicos complementares. [...] A complexidade do trabalho de mudar o uso de um edifício tombado para um novo uso, dentro das características específicas do complexo arquitetônico e da situação urbanística do conjunto, além de sua complementação, com 8 mil metros quadrados a serem construídos, constitui um desafio.

(Revista aU, n. 53, p. 96-7, 1994)
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