O rico acervo aberto da galeria
Esculturas reinam absolutas desde a inauguraçãoA Galeria foi aberta pelo prefeito Francisco Prestes Maia e aproveitou os vazios e a estrutura do recém-construído “novo” Viaduto do Chá. Em um espaço de 6 mil metros quadrados, sua inauguração contou com presenças ilustres, como o então Presidente da República Getúlio Vargas e a pintora Anita Malfatti. Na ocasião, foi aberto o Salão Paulista de Belas Artes.
Formada por três andares subterrâneos, que dão acesso ao Vale do Anhangabaú sob o Viaduto do Chá, a Galeria foi inteiramente revestida de mármore. Em 1955, recebeu a primeira escada rolante pública da cidade, uma novidade que atraía centenas de visitantes apenas para usar o artefato.
Entretanto, as grandes estrelas da Galeria, presentes no local desde a abertura, continuam sendo as esculturas de bronze Graça I e Graça II, concebidas por Victor Brecheret, que iniciou sua formação artística no Liceu de Artes e Ofícios, em 1912. Cada uma das Graças tem 2,10 metros de altura, sobre um pedestal de granito de 30 centímetros. As estátuas foram encomendadas pelo então prefeito da cidade, Francisco Prestes Maia, em 1938 e 1945.
Em 1955, recebeu a primeira escada rolante pública da cidade, uma novidade que atraía centenas de visitantes apenas para usar o artefato.
O esplendor da fundição executada pelo Liceu se manifesta em duas obras do artista Victor Brecheret, formado pela escola. Com traços bem definidos e características únicas, as Graças foram encomendadas pelo prefeito da cidade, Francisco Prestes Maia.
A genialidade de Victor Brecheret pôde ser vista em amostra realizada pelo Liceu de Artes e Ofícios no ano do seu sesquicentenário, com exposição no Centro Cultural de obras únicas realizadas em diferentes técnicas pelo egresso. As Graças são exemplo da formação do Liceu, com lastro artístico e técnico, capazes de transformar espaços comuns, como a Galeria Prestes Maia, em galerias democráticas.
Réplica de Moisés, de Michelangelo, fundida pelos artífices do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Estratégia pedagógica da escola, a reprodução tridimensional possibilitava aos técnicos a compreensão integral da volumetria dos originais europeus.
O outro destaque da galeria é uma réplica, também em bronze, da escultura Moisés, do artista renascentista Michelangelo (1475-1564); tem 2,35 metros de altura e foi produzida pelos artífices do Liceu. O original esculpido em mármore está na Basílica de São Pedro Acorrentado, em Roma. Em 1505, o Papa Júlio II encomendou um mausoléu a Michelangelo. No entanto, a obra foi concluída apenas em 1545, mais de três décadas depois da morte do referido papa. O projeto original da arquitetura mortuária previa cerca de 40 esculturas, sendo a estátua de Moisés o destaque central do conjunto, suspensa num pedestal de quase 4 metros de altura. No entanto, o projeto original foi modificado e resultou no conjunto presente até hoje na capital italiana, em que Moisés ocupa o espaço central na seção inferior do monumento. Ana Belluzo reforça a importância do uso do metal em obras de escultura produzidas pelo Liceu. Ana Belluzo reforça a importância do uso do metal em obras de escultura produzidas pelo Liceu.
Muito antes que o aumento da produção viesse apoiar o uso do ferro como suporte construtivo, antes, portanto, de estar definido seu destino industrial, o ferro batido e as ligas de metal, como o bronze, haviam produzido obras de reconhecido valor artístico. As peças de metal tinham chegado dos romanos ao renascimento, difundindo-se até o século XIX, quando se apresentam com considerável lastro.
(BELUZZO, A. 1988, P. 267)O Liceu teve a primeira oficina de bronze em São Paulo. A modelagem desse material compreendia a realização de moldes de cera perdida, para obras grandes como estátuas e monumentos, e moldes de terra para a fundição de pequenas peças. O processo de cera perdida associava estreitamente o escultor e o fundidor, razão pela qual passariam pelo Liceu nessa fase pioneira os mais renomados escultores e fundidores do período.
(BELUZZO, A. 1988, P. 287).Uma curiosidade sobre o monumento mundialmente conhecido e reproduzido pelo Liceu em bronze são os dois chifres sobre a cabeça de Moisés. O “adorno” faz referência a uma tradução incorreta de manuscritos medievais, do hebraico para o latim. Em hebraico, a palavra qaran significa reluzente, brilhante, adjetivo encontrado no texto bíblico registrado no livro do Êxodo para descrever a face de Moisés ao descer do monte após receber, pela segunda vez, os 10 mandamentos. No entanto, no mesmo hebraico, a palavra qeren, de raiz semelhante, significa chifre. São Jerônimo interpretou erroneamente a palavra qaren traduzindo-a como chifre. Há algumas interpretações que consideram o chifre como sinal de poder e autoridade e isentam Jerônimo do erro cometido.
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