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Estação Júlio Prestes Estação Júlio Prestes, Sala São Paulo, 1938

A reivenção da estação

Uma ferrovia para atender aos barões do café

O edifício da antiga Estação Júlio Prestes, projetado pelo arquiteto Christiano Stockler das Neves, foi construído pela Estrada de Ferro Sorocabana entre 1926 e 1938. O conjunto arquitetônico constitui um dos mais significativos testemunhos das realizações da Companhia Estrada de Ferro Sorocabana, fundada em 1875 com o objetivo de ligar a região de Sorocaba a São Paulo e transportar café, nossa principal commodity no início do século XX.

A empresa contribuiu com o desenvolvimento ferroviário de São Paulo e ajudou a integrar os estados do Sul e da região Centro- -Oeste. A Sorocabana transportava os grãos de café diretamente das plantações no interior paulista, e a São Paulo Railway, na vizinha Estação da Luz, escoava a produção para a exportação via Porto de Santos. Ambas foram importantes vias de transporte de cargas e passageiros, conforme processo de tombamento do edifício, que consta no livro do tombo histórico do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo:

Estação Júlio Prestes
Construção:
1926 - 1938
Estilo:
Luís XVI, Eclético, Neoclássico
Projeto:
Escritório Técnico Samuel e Christiano das Neves e Escritório Ramos de Azevedo
Localização:
Rua Mauá, 51, Santa Ifigênia – São Paulo, SP

De grandes proporções, possui alguns ambientes com vitrais de autoria de Conrado Sorgenicht, escadarias revestidas de mármore e peitoris executados em ferro fundido. Nas áreas de circulação o piso é de mosaico e, nos demais ambientes, de madeira. Atualmente abriga a Sala São Paulo, as sedes da Orquestra Sinfônica do Estado e da Secretaria de Estado da Cultura. Permanece em atividade a plataforma de embarque e desembarque de passageiros da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos – CPTM. A reforma, que se iniciou em 1997, introduziu um estacionamento de veículos em três níveis e a sala de concertos, cuja acústica é considerada uma das melhores do mundo. O complexo Cultural Júlio Prestes foi inaugurado em 9 de Julho de 1999.”

(CONDEPHAAT, p. 82, 2000).
Estação Júlio Prestes

Marco visual na região, a torre principal da Estação Júlio Prestes abriga o maior relógio de fachada exposto em São Paulo. Produzido pela empresa inglesa Oben em 1935, é composto por quatro mostradores, um em cada face da torre.

A situação das ferrovias brasileiras se agravou nas décadas seguintes, com a chegada de locomotivas elétricas e a diesel. O protagonismo rodoviário e o incentivo ao parque automobilístico, que se instalaram no Brasil a partir dos anos 1950, foram fatores decisivos para relegar o modal ferroviário a um segundo plano.

Com 25 mil m², sua construção foi inspirada nos terminais nova-iorquinos Grand Central Station e Pennsylvania Station, nos Estados Unidos. Outra característica é a estrutura de concreto e a alvenaria de tijolos, no estilo Luís XVI, com forros trabalhados, colunas imponentes, detalhes nas esculturas na torre do relógio e nos arcos das amplas janelas da fachada, além do pé-direito alto, que confere a sensação de amplitude e luxo. Coube ao Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, segundo registro de Ana Beluzzo (1988), a execução de toda a serralheria do complexo, como a caixilharia, as portas, os portões e os guichês de ferro.

Conforme registra Ricardo Indig Teperman (2016), o projeto da Estação Júlio Prestes foi premiado, em 1927, no Terceiro Congresso Pan-Americano de Arquitetos, o que contribuiu sobremaneira para a carreira de Stockler, que mais tarde fundou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Nomeado pelo governador Adhemar de Barros, o arquiteto chegou a ser prefeito da cidade de São Paulo em 1947.

A situação das ferrovias brasileiras se agravou nas décadas seguintes, com a chegada de locomotivas elétricas e a diesel. O protagonismo rodoviário e o incentivo ao parque automobilístico, que se instalaram no Brasil a partir dos anos 1950, foram fatores decisivos para relegar o modal ferroviário a um segundo plano. Em 1971, a companhia Fepasa foi formada para agregar todas as empresas estatais paulistas de transporte ferroviário, com um plano de ampla reestruturação: desativar trechos deficitários e concluir obras inacabadas. No entanto, o empenho não foi suficiente para reverter o processo de decadência devido à falta de investimentos.

Estação Júlio Prestes

A vista aérea do bairro da Luz revela a grandiosidade das instalações da Estação Júlio Prestes, que segue até hoje sua vocação principal, com trens da CPTM. Parte da estrutura foi revertida para a construção da Sala São Paulo. À esquerda da estação está o histórico edifício Pina Estação, antigo Armazém Central da Estrada de Ferro Sorocabana, construído em 1914 por Ramos de Azevedo e que foi também sede do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) entre 1942 e 1983.

Estação Júlio Prestes
Estação Júlio Prestes
Estacao Júlio Prestes

A ornamentação da caixilharia de ferro produzida pelo Liceu reproduz ramos e frutos do café, símbolo da riqueza paulista à época da construção do edifício.

1.509 lugares e 1000 m², considerada a maior sala de concertos da América Latina, possui forro móvel, que permite uma adaptação acústica aos mais diversos tipos de música a serem executados. A intervenção arquitetônica que transformou a estação numa das mais completas e reconhecidas salas de concerto em termos de acústica no mundo ressaltou características do projeto arquitetônico original, como os icônicos capitéis coríntios das robustas colunas de sustentação do átrio central que hoje balizam o perímetro do espaço. Sobre a transformação apontada como decisiva para a história da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a OSESP, Teperman afirmou em sua tese de doutorado:

A situação das ferrovias brasileiras se agravou nas décadas seguintes, com a chegada de locomotivas elétricas e a diesel. O protagonismo rodoviário e o incentivo ao parque automobilístico, que se instalaram no Brasil a partir dos anos 1950, foram fatores decisivos para relegar o modal ferroviário a um segundo plano.

O espírito que orientara a arquitetura de Christiano Stockler das Neves nos anos 1920 – e descrito como Luís XVI modernizado – era também mobilizado pelos autores do livreto (o caderno de notas de programa do concerto de inauguração da Sala São Paulo, publicado em 9 de julho de 1999) em gesto que reforçava o ‘classicismo’ do evento de música clássica. A opção pelo preto e branco, o destaque para as colunas coríntias, o close nos ornamentos dos capitéis; as imagens promoviam a entronização da Sala São Paulo como lugar de culto à alta cultura.

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