Histórico e contemporâneo

Fazer parte da história de uma instituição como o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo é um privilégio. Este é o sentimento do arquiteto Ricardo Julião, membro do conselho e responsável pela reconstrução do galpão que abriga o Centro Cultural do Liceu de Artes e Ofícios, um local que reúne parte do acervo da entidade educacional, além de sediar atividades culturais e artísticas.

A reconstrução foi necessária após um incêndio de grandes proporções, em 2014, destruir o galpão centenário que recebia exposições desde 1980. O fogo consumiu a maior parte do acervo de móveis, objetos e obras ali armazenados, especialmente réplicas em gesso de esculturas clássicas, trazidas da Europa na virada do século 20 e expostas no antigo Centro Cultural. Embora não tivessem valor artístico significativo, as peças tinham uso didático e, dos 28 itens, pelo menos 10 puderam ser restaurados.

de reconstruir o Centro Cultural do Liceu de Artes e Ofícios e restaurar o que fosse possível da sua estrutura. O atual CCLAO manteve as principais características arquitetônicas, incluindo alguns aspectos do prédio original. Permanecem o pórtico, os pilares e toda a estrutura metálica que no passado sustentava a edificação, mas que atualmente têm função decorativa.

A bela estrutura metálica que adorna o galpão, reinaugurado em 2018, é um presente do Kaiser da Alemanha. O país participou de uma exposição na virada do século e importou uma grande estrutura metálica. Ao final do evento, o líder alemão, em vez de mandá-la de volta, a doou ao Liceu. Na ocasião, o presidente do Conselho Superior do Liceu, Dr. Livio De Vivo, afirmou:

De acordo com Julião, houve uma avaliação de que a estrutura deveria ser preservada, apesar de ter perdido sua capacidade de suportar o prédio por ter ficado exposta ao fogo durante muitas horas. Para isso, as peças foram desmontadas, numeradas e depois recolocadas em caráter decorativo. O objetivo dessa solução foi preservar a memória do Liceu e da cidade de São Paulo.

Embora os traços originais da arquitetura permaneçam na referência arquitetônica, como os tijolos que revestem os pilares, o projeto concebido por Julião atribui ao prédio um olhar moderno e contemporâneo, com respeito e coerência à paisagem urbana do bairro. A ideia era conceber um edifício multiuso, tecnicamente interessante e conectado ao seu passado.

Foram criados dois pórticos, mantendo o antigo, mas modernizando o atual com características condizentes às atividades do século XXI. Os dois elementos são ligados por hastes horizontais, que reforçam a ideia de uma fusão entre os séculos. Com um pé-direito duplo, o galpão oferece, ainda, proteção térmica e acústica adequadas, sendo equipado com um moderno sistema de luz, que permite a realização de diversas atividades artísticas.

Desde a reinauguração, o CCLAO exibe uma exposição permanente com valor memorial e didático: “História e Memória”. A mostra é sobre o próprio Liceu, com objetos produzidos pelos artífices, além de painéis que contam a trajetória da instituição em formato de linha do tempo, a partir de 1873, data da fundação da Sociedade Propagadora de Instrução Popular, organização que deu origem ao Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. O novo espaço, que une passado e futuro, transformou-se em um centro cultural moderno, utilizado tanto para as próprias atividades do colégio, como para eventos culturais e artísticos.