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Edifício London & River Plate Bank Edifício London & River Plate Bank, Triângulo Histórico, 1912

A marca do gótico inglês

Um símbolo do poder financeiro no Triângulo Histórico

Projetado por Felisberto Ranzini e construído pelo escritório Lindenberg, Alves & Assumpção, o edifício London River Plate Bank foi erguido em 1912, seguindo características do período neogótico inglês, para ser a matriz paulista do banco britânico London & River Plate. Com sedes em diferentes países da América do Sul, a instituição bancária foi decisiva, por exemplo, na negociação da consolidação da dívida externa brasileira em 1898, conhecida como Funding Loan. Projetista não diplomado, Ranzini foi sucessor do arquiteto Domiziano Rossi no Escritório Ramos de Azevedo.

Edifício London & River Plate Bank
Construção:
1912
Estilo:
Neogótico eclético, Tudor
Projeto:
Felisberto Ranzini e Lindenberg, Alves & Assumpção
Localização:
R. Quinze de Novembro, 330 – Centro, SP

Felisberto Ranzini foi seu sucessor [do arquiteto Domiziano Rossi] tanto no E. T. Ramos de Azevedo & Cia como nas aulas na Escola Politécnica e no Liceu após sua morte em 1920, assim atuando até 1976, quando faleceu. Ranzini também lecionou na FAUUSP de 1948 a 1950.

(BUENO, B. P. S. 2018, p. 141)
Edifício London & River Plate Bank
Edifício London & River Plate Bank

As ogivas características marcam o contorno das janelas e do conjunto de portas de acesso, forjado na oficina de serralheria do Liceu.

Edifício London & River Plate Bank

Detalhe da ornamentação esculpida em argamassa.

Edifício London & River Plate Bank

No topo da fachada, os pináculos são evidência do gótico revisitado. Símbolo da opulência inglesa, o estilo Tudor é evidente no conjunto de traços que compõem o London & River Plate Bank.

Nascido em 1881, na cidade de Mantova, na Itália, Ranzini chegou ao Brasil em 1888. Estudou no Liceu de Artes e Ofícios e foi professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo entre 1921 e 1949. Lecionou no Liceu de Artes e Ofícios e na Escola de Belas-Artes de São Paulo. Participou de importantes obras na cidade de São Paulo, como a construção da Faculdade de Direito no Largo São Francisco e do Mercado Municipal de São Paulo. Também foi o responsável pelo projeto da Casa das Rosas, construída para a filha e genro de Ramos de Azevedo.

No caso do Escritório F. P. Ramos de Azevedo & Cia e na Severo & Villares posteriormente, os chefes da Seção de Projeto – Domiziano Rossi, Felisberto Ranzini e Domingos Pelliciotta – não eram diplomados em escolas de nível superior. À exceção do ‘il terribile’ Domiziano Rossi – como era chamado pelos colegas pelo temperamento nervoso –, os demais dedicaram-se ao ofício ao longo de toda a vida sem grandes polêmicas.

(BUENO, B. P. S. 2018, p. 157)

Nascido em 1881, na cidade de Mantova, na Itália, Ranzini chegou ao Brasil em 1888. Estudou no Liceu de Artes e Ofícios e foi professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo entre 1921 e 1949. Lecionou no Liceu de Artes e Ofícios e na Escola de Belas-Artes de São Paulo. Participou de importantes obras na cidade de São Paulo, como a construção da Faculdade de Direito no Largo São Francisco e do Mercado Municipal de São Paulo.

Edifício London & River Plate Bank

As cornijas (molduras que rematam o entablamento das colunas) são a base para o posicionamento do conjunto de cinco aberturas sobre cada uma das portas de acesso.

Na época da inauguração, o endereço do edifício London & River Plate Bank não poderia ser mais exclusivo: a Rua Quinze de Novembro. Ao lado das ruas São Bento e Direita, compunha o chamado “Triângulo Histórico”, a região mais rica e poderosa da capital paulista no início do século XX. Em seu entorno estavam instalados bancos, lojas voltadas para a elite, restaurantes e cafés. Vale ressaltar que, à época da inauguração do edifício, o Brasil vivera há apenas 23 anos a Proclamação da República. Como símbolo dos ideais republicanos, a antiga rua que liga o Pátio do Colégio ao Largo de São Bento nasceu no início da urbanização da cidade.

Com a Proclamação da República aos 15/11/1889, os vereadores paulistanos alteraram o nome de várias ruas e praças da cidade que lembravam o antigo regime. Assim, a “Rua da Imperatriz” passou a ser chamada definitivamente de “Rua 15 de Novembro”, lembrando portando a data da Proclamação da República.

(Dicionário de ruas de São Paulo)

Esteticamente, o imponente edifício exibe traços típicos do estilo neogótico Tudor, última fase da arquitetura medieval durante o período da dinastia homônima (1485–1603) predominantemente inglês. Evidente nas ranhuras e ornamentos da fachada do River, o estilo é uma adaptação inglesa para a arquitetura gótica. O estilo surgiu entre os períodos sob liderança de Henrique VII e Henrique VIII. Manifesta-se em edifícios icônicos mundo afora, como nas sedes das universidades de Oxford e de Cambridge. Difere do neogótico predominantemente francês e italiano, que inspira construções importantes da cidade de São Paulo, como a Catedral Metropolitana da Sé, de Maximilian Emil Hehl, a Catedral Evangélica de São Paulo, de Bruno Simões Magro, e a Santa Casa de Misericórdia, de Luigi Pucci. Cronologicamente, é importante ressaltar que a arquitetura gótica continuou a florescer na Inglaterra cem anos após os preceitos da arquitetura renascentista serem formalizados em Florença no início do século XV.

Esteticamente, o imponente edifício exibe traços típicos do estilo neogótico Tudor, última fase da arquitetura medieval durante o período da dinastia homônima (1485–1603) predominantemente inglês. Evidente nas ranhuras e ornamentos da fachada do River, o estilo é uma adaptação inglesa para a arquitetura gótica. O estilo surgiu entre os períodos sob liderança de Henrique VII e Henrique VIII.

Edifício London & River Plate Bank

Vizinho ao Edifício Altino Arantes, outro tesouro erguido com contribuição do Liceu, o London & River Plate Bank salta aos olhos dos traseuntes pela riqueza do gótico inglês superornamentado.

Edifício London & River Plate Bank

As ogivas típicas do estilo Tudor ganham reforço com sucessivos contornos. Vitrais coloridos preenchem a caixilharia produzida pelo Liceu de Artes e Ofícios.

Edifício London & River Plate Bank

O prédio possui estrutura de concreto e alvenaria de tijolos. Sem grandes alterações na fachada até os dias de hoje, tem onze pavimentos, sendo dois voltados para a Rua Boa Vista e sete para a Rua Quinze de novembro, além do porão. Também seguem conservados o imponente portão neogótico e os ornamentos da fachada, confeccionados pelos artífices do Liceu de Artes e Ofícios. Os detalhes que mais evidenciam a influência gótica são as varandas acima da entrada, formadas por vitrais e com aberturas delineadas por arcos de ogiva, típicos do gótico.

Além da herança direta de projeto com a atuação do ex-aluno e professor Felisberto Ranzini, o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo contribuiu diretamente para o esplendor do London & River Plate Bank na produção das esquadrias, dos ornamentos da fachada e do conjunto de portões. Capitéis coríntios, ogivas, pináculos lembram a ornamentação hammerbeam do Westminster Hall, em Londres.

O London & River Plate Bank era uma grande consequência e um símbolo desse domínio inglês, tendo sido o primeiro banco britânico a operar na América do Sul. Daí a importância da coerência formal e arquitetônica da sede do banco com o estilo genuinamente inglês. O banco desempenhou importante papel na política da então jovem república brasileira. O governo republicano havia herdado do Império uma grande dívida externa, que consumia a maior parte do saldo da balança comercial. No decorrer da década de 1890, a dívida chegou a crescer 30%. Diante disso, o presidente Prudente de Morais iniciou negociações com o London & River Plate Bank.

Internamente, a construção sofreu modificações radicais, como a retirada do mezanino e a desconfiguração de seus espaços. Segue bem preservada a fachada original do edifício tombado em 1992 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade de São Paulo. Um dos motivos que contribuíram para isso foi a iniciativa de revitalização do centro da cidade, com a implantação de calçadões para pedestres na via, por exemplo. Além do London & River Plate Bank, o edifício abrigou o Banco Comercial do Estado de São Paulo, o Banco Itaú e o Banco do Brasil.

O London & River Plate Bank era uma grande consequência e um símbolo desse domínio inglês, tendo sido o primeiro banco britânico a operar na América do Sul. Daí a importância da coerência formal e arquitetônica da sede do banco com o estilo genuinamente inglês. O banco desempenhou importante papel na política da então jovem república brasileira.

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