Concreto armado para o vão
Belvedere preservado sobre o vale era a condiçãoFundado em 1947 pelo empresário Assis Chateaubriand, o MASP foi o primeiro museu moderno do país. A convite de Chateaubriand, o jornalista e historiador italiano Pietro Maria Bardi foi escolhido para dirigir o museu, e sua esposa, Lina Bo Bardi, para desenvolver os projetos arquitetônico e expográfico.
Instalado originalmente na rua 7 de Abril, no centro da cidade, o MASP foi transferido para Avenida Paulista somente nos anos 1960. O espaço que o museu ocupa hoje era um terreno do Belvedere Trianon, que unia restaurante e confeitaria em um tradicional ponto de encontro da elite paulistana. Em 1951, foi demolido para dar lugar a um pavilhão que abrigou a primeira Bienal Internacional de São Paulo, conforme publicou a arquiteta Sol Camacho em artigo na revista ArqXP (2022):
A história dos Bardi se mistura com a do Museu de Arte de São Paulo, sendo Pietro o primeiro diretor da instituição e Lina a arquiteta responsável pelo edifício na Avenida Paulista. Antes da construção do prédio que abriga hoje o museu, Pietro e Lina organizaram uma galeria do MASP na Rua 7 de Abril, de certa forma alinhada com o conceito de pavilhão ou arquitetura de vidro, o que significou uma importante experiência em termos expográficos e museográficos. Lina adotou na galeria algumas das soluções aplicadas no projeto das estantes da casa de vidro e, mais tarde, no hall de exposições do museu.
(CAMACHO, S. 2022, p. 112)Suspenso por dois pórticos de concreto, o corpo do MASP se ergue sobre o solo e revela, ao fundo, a vista para a Avenida Nove de Julho. Sob o leito carroçável está escondido o Rio Saracura, formador do Anhangabaú, afluente do Tamanduateí.
Preservar a vista para o vale foi a condição que Joaquim Eugênio de Lima colocou para a doação do terreno que seria ocupado pelo MASP. O generoso vão projetado por Lina mantém a vista para a paisagem e convida os passantes da Avenida Paulista à contemplação da vista.
Leveza, transparência e suspensão marcam o icônico projeto modernista de Lina, guiado pelo uso de vidro e concreto, marco na história da arquitetura moderna. Embora pouco difundida, a contribuição do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo para a construção de edifícios modernistas foi igualmente notável. A caixilharia do MASP, ícone essencial para a composição da fachada característica, saiu das oficinas de serralheria do Liceu. Segundo registro de Ana Belluzzo (1988), é obra de Amilcar Salmazzo, paulista nascido em 1902 e desenhista na oficina de serralheria. Salmazzo foi aluno de desenho e pintura no Liceu e atuou na instituição entre 1920 e 1970. Participou da elaboração dos lustres do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, dos caixilhos do MASP e de outras obras igualmente importantes, como os painéis para a sede da Petrobrás na capital fluminense. Nesta mesma fase, o Liceu produziu parte do mobiliário do Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Os 74 metros do vão livre foram pensados como uma praça pública, da qual a população pudesse desfrutar. Na verdade, o vão livre não surgiu devido à inspiração da arquiteta, mas por uma exigência do antigo proprietário do terreno. Joaquim Eugênio de Lima. Idealizador e construtor da avenida Paulista, doou o local para a prefeitura sob a condição de que a vista para o centro da cidade daquele ponto fosse sempre preservada.
Antes do museu, estava no local o chamado Belvedere Trianon, projetado pelo Escritório Ramos de Azevedo e inaugurado pelo governador do estado, Altino Arantes, em 1916. A partir da estrutura, os visitantes podiam contemplar a vista do Vale do Anhangabaú. A obra foi demolida em 1951 para dar lugar a um pavilhão, onde foi sediada a primeira edição da Bienal Internacional de São Paulo.
A construção do MASP levou 10 anos para ser concluída e, finalmente, em 7 de novembro de 1968, a nova sede foi inaugurada com a presença do príncipe Phillip e da Rainha Elizabeth II, da Inglaterra, responsável pelo discurso de inauguração. Na arte, o MASP assume o papel de questionar o tradicional modelo europeu, retirando as obras de arte das paredes e expondo-as em cavaletes de vidro, criados também por Lina, para expor a coleção permanente no segundo andar. Essa forma de dispor as peças aproxima o visitante das exposições, além de permitir a escolha de percurso e a visão do verso de cada obra.
A maior parte de seu acervo foi adquirida entre 1947 e 1952 pelo valor equivalente a US$ 6 milhões. Atualmente, o MASP é considerado o museu de arte mais importante do hemisfério Sul, com cerca de 10.000 peças em seu acervo, que abrange arte africana, das Américas, asiática, brasileira e europeia, desde a Antiguidade até o século 21, incluindo pinturas, esculturas, desenhos, fotografias e vestuário.
O MASP da movimentada Avenida Paulista também estabelece uma relação entre arte e paisagem graças à cortina de vidro da sala de exposições principal: a fachada sudoeste abre a vista para o topo das árvores do Parque Trianon, e as fachadas nordeste criam uma vista para o eixo da Avenida 9 de Julho e o centro histórico da cidade. Na maioria das vezes, as fachadas de museu não são totalmente abertas à paisagem, como estratégia para proteger a arte dos efeitos adversos da luz solar. Os cavaletes de vidro que sustentam as pinturas criam um efeito de colagem dentro do salão principal, com a justaposição visual de estilos e idades.
(CAMACHO, S. 2022, p. 113).A construção do MASP levou 10 anos para ser concluída e, finalmente, em 7 de novembro de 1968, a nova sede foi inaugurada com a presença do príncipe Phillip e da Rainha Elizabeth II, da Inglaterra, responsável pelo discurso de inauguração.
A fachada envidraçada, marca da arquitetura do Museu, foi executada pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Na contramão das salas de exposição, a proposta de Lina faz do MASP um espaço único no mundo.
© Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo