Um castelo genovês em São Paulo
Marco do desenvolvimento industrial paulistaEm 1911, como já descrito no capítulo 4, Joseph-Antoine Bouvard foi contratado pela prefeitura para modernizar a cidade emergente e baseou-se nas tendências europeias da Belle Époque. O arquiteto sugeriu a implantação de dois grandes parques inspirados nos franceses Bosque de Boulogne e Bosque de Vincennes. A versão paulistana seria composta por um parque sobre o Vale do Anhangabaú e outro sobre a Várzea do Carmo. A proposta de Bouvard incluía a construção do Palácio das Indústrias no local onde se encontra atualmente, à beira do Tamanduateí.
A várzea do Carmo manteve-se pouco ocupada até 1918, quando o antigo vale pestilento deveria se transformar numa das mais atrativas áreas da cidade. O Parque Dom Pedro II, em 1925, já era um belíssimo parque tal como fora concebido por Bouvard. [...] O projeto para o Parque da Várzea do Carmo talvez terá sido o mais imaginoso e mais completo. Foi criado um ‘lago’ como alargamento do leito do rio e uma ilha.
(TOLEDO, B. L., 2004, p. 156)O Palácio das Indústrias começou a ser projetado em 1910 pelo arquiteto Domiziano Rossi com suporte de Felizberto Ranzini, do escritório Ramos de Azevedo. Fortemente influenciado pelas formas do Castello Mackenzie de Gino Coppedè, palacete com traços góticos e maneiristas em Gênova, na Itália, o projeto apresenta aspectos das fortalezas toscanas do século XIV. Os detalhes decorativos são típicos dos palácios da primeira Renascença florentina, o que confere ao conjunto a intersecção de diversos movimentos artísticos e o torna um típico exemplar eclético. Sua estrutura é metálica, uma grande novidade à época de sua construção, e tem o tijolo aparente como principal acabamento.
A ornamentação da fachada é carregada de símbolos e representações da modernidade e, principalmente, da pujança paulista, repleta de alegorias com temas mitológicos, brasões das cidades cafeeiras e alusões ao progresso e ao trabalho. Boa parte dos ornamentos, lustres e esculturas foram confeccionados pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.
No topo do conjunto, repousa o grupo escultórico mais chamativo, símbolo da força e do progresso paulista. Executado pelo mestre artesão do Liceu Nicola Rollo, é exemplo da capacidade técnico-artística da oficina de cerâmica da instituição.
Na fachada lateral, chama a atenção o conjunto de quimeras, ou gárgulas, alegorias típicas do gótico. Um conjunto escultórico com dois bois está sob um pedestal com a palavra “progresso” esculpida, símbolo da força paulista. Cada um desses detalhes foi concebido por artesãos do Liceu de Artes e Ofícios em suas oficinas de cerâmica, com a participação ativa do escultor italiano Nicola Rollo. As figuras femininas embutidas na fachada – característica arquitetônica típica de edifícios medievais – representam os setores da economia paulista, como comércio, pecuária, agricultura e indústria. O mestre de obras Calixto Fianingui, mestre do Liceu, contribuiu com suas habilidades na composição de volutas, vinhetas e molduras de concreto e cimento, tal qual realizou nas obras do Mercado Municipal, vizinho ao Palácio das Indústrias, do outro lado do Tamanduateí.
Pelo Liceu passaram os escultores Giulio Starace, Nicola Rollo e Ettore Ximenez para a realização de obras nas oficinas, oferecendo aos alunos interessados a oportunidade de enriquecer sua experiência.
(BELLUZO, A. M., 1988, p. 132)Na fachada lateral, chama a atenção o conjunto de quimeras, ou gárgulas, alegorias típicas do gótico. Um conjunto escultórico com dois bois está sob um pedestal com a palavra “progresso” esculpida, símbolo da força paulista. Cada um desses detalhes foi concebido por artesãos do Liceu de Artes e Ofícios em suas oficinas de cerâmica, com a participação ativa do escultor italiano Nicola Rollo.
Nos quatro cantos da fachada, ao nível da calçada, estão quatro esculturas que representam os setores econômicos paulistas. Nas fotos acima, a representação do comérico à esquerda e, à direita, o símbolo da pecuária, com a figura que segura nos braços o novilho.
O ecletismo do Palácio das Indústria se mostra nos detalhes, como o ferro forjado das portas a estilo gótico sob os arcos plenos do clássico. O conjunto escultórico no topo direito destaca a pujança econômica paulista.
Portões de ferro fecham os arcos plenos da fachada lateral, com ornamentos forjados um a um, ladeados por capitéis coríntios, outra alusão ao gótico revisitado. A caixilharia também é obra do Liceu, bem como o lustre monumental do salão principal, preservado até hoje. Na lateral da torre principal, o grifo metálico que sustenta o mastro foi desenhado por Piazzo Fiorenzo e produzido nas oficinas do Liceu.
Portões de ferro fecham os arcos plenos da fachada lateral, com ornamentos forjados um a um, ladeados por capitéis coríntios, outra alusão ao gótico revisitado. A caixilharia também é obra do Liceu, bem como o lustre monumental do salão principal, preservado até hoje. Ana Maria Belluzo (1988) aponta como executor do icônico grifo que ornamenta o Palácio das Indústrias o forjador João Berlangero. Contribuíram ainda Cadrobbi e Ardito na decoração metálica, com os detalhes das folhagens de ferro forjado na caixilharia concebidos por Giuseppe Polizzotto. Na lateral da torre principal, o grifo metálico que sustenta o mastro foi desenhado por Piazzo Fiorenzo e produzido nas oficinas do Liceu.
Grifo desenhado por Piazzo Fiorenzo e bombado por Del Fre nas oficinas do Liceu de Artes e Ofícios, destinado ao Palácio das Indústrias de São Paulo, 1910-1924. A figura apresenta atributos da águia e do leão, considerados animais superiores, e uma longa cauda de dragão, que na simbologia antiga é um ser vigilante. Desde a arte medieval, o grifo se apresenta como um signo ambivalente, ameaçador e salvador ao mesmo tempo.
(BELLUZO, A. M., 1988, p. 29)Os tijolos aparentes são marca da identidade do palácio paulistano, uma releitura do Castello Mackenzie de Gino Coppedè, na cidade italiana de Gênova.
A fachada rica em ornamentações é talvez um dos maiores exemplos da multiplicidade dos ofícios do Liceu. As artes da escola se manifestam nos conjuntos escultóricos, caixilhos e em toda a excelência do conjunto.
Vista do grifo imponente a segurar o mastro. Símbolo da força paulista, o animal fantástico foi produzido por mestres artesãos italianos no Liceu de Artes e Ofícios.
No topo dos longos fustes que sustentam a arcada lateral do Palácio das Indústrias está o acabamento refinado esculpido em argamassa. O coríntio rebuscado se mostra na ornamentação. Os lustres pendentes, de ferro, também são obra cuidadosa da serralheria do Liceu.
O clerestório marcado na galeria do piso superior é outro sinal do ecletismo, desta vez em revisita ao gótico. A bandeira sobre as portas exibe vitrais coloridos. Dentro do Palácio a excelência do Liceu também é evidente. O ponto alto é o lustre monumental, com detalhes de ferro forjado em perfeito estado de conservação.
O Palácio das Indústrias, concluído em 1924, foi usado originalmente para abrigar exposições relacionadas ao desenvolvimento industrial paulista. Ainda em construção, em 1917, o local recebeu sua primeira exposição. Cerca de 160 expositores que tinham fábricas na cidade de São Paulo reuniram o que havia de mais moderno em maquinários, artefatos de alumínio, cerâmica, vidros, cristais, aparelhos de iluminação, embarcações e veículos, além de produtos farmacêuticos, químicos e alimentícios
O Palácio das Indústrias também foi palco de atividades culturais, como a Primeira Exposição Geral de Belas Artes, durante a Semana de Arte Moderna em 1922, que teve participantes ilustres como Tarsila do Amaral, Oscar Pereira da Silva, Anita Malfatti e Pedro Alexandrino. Na década de 1930, foi sede da Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio e, nos anos 1940, abrigou a Assembleia Legislativa. Posteriormente, hospedou outros órgãos públicos, como Corpo de Bombeiros, Delegacia de Estrangeiros e repartições policiais.
Em 1982, o edifício foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). Nos anos 1990, o Palácio e seu entorno passaram pelo processo de renovação urbana do Parque D. Pedro II. O projeto de restauro foi realizado pelo escritório da arquiteta Lina Bo Bardi, e o local passou, então, a sediar a Prefeitura de São Paulo, endereço que ocupou até 2004, quando a sede municipal foi transferida para o Edifício Matarazzo, no vale do Anhangabaú.
Desde 2009, o Palácio das Indústrias retomou a sua função original de museu e local de exposições ao abrigar o Museu Catavento, voltado a levar conhecimento de ciências e tecnologia para crianças e adolescentes. O espaço reúne 219 instalações, em 12 mil metros quadrados de área expositiva, divididas em quatro grandes seções: Universo, Vida, Engenho e Sociedade. Os visitantes podem fazer experimentos científicos e usufruir de mostras interativas e imersivas.
O Palácio das Indústrias, concluído em 1924, foi usado originalmente para abrigar exposições exposições relacionadas ao desenvolvimento industrial paulista. Ainda em construção, em 1917, o local recebeu sua primeira exposição. Cerca de 160 expositores que tinham fábricas na cidade de São Paulo reuniram o que havia de mais moderno em maquinários, artefatos de alumínio, cerâmica, vidros, cristais, aparelhos de iluminação, embarcações e veículos, além de produtos farmacêuticos, químicos e alimentícios.
© Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo