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Palácio dos Correios e Telégrafos Palácio dos Correios e Telégrafos, Vale do Anhangabaú, 1922

O palacete da transformação

para atender a demanda por serviços de comunicações

Com projeto do arquiteto Domiziano Rossi e de Felisberto Ranzini, do escritório Ramos de Azevedo, o Palácio dos Correios e Telégrafos foi inaugurado em 1922, no Vale do Anhangabaú. Era uma época de transformações econômicas e urbanas em São Paulo, quando o comércio e os serviços aumentaram sua relevância no cotidiano da cidade num contexto republicano e diante do florescer econômico que elevava o status da capital paulista.

Palácio dos Correios e Telégrafos
Construção:
1920-1922
Estilo:
Eclético: neoclássico, neorrenascentista
Projeto:
Escritório Ramos de Azevedo
Localização:
Praça Pedro Lessa, Anhangabaú

Apesar dos requintes do geral aos pormenores, as edificações eram feitas em tempo record. O Palácio dos Correios foi construído em apenas dois anos (de 1920 a 1922, entre projeto, fundação e inauguração), quando hoje [2018] seu restauro levou mais de quatro; o Teatro Municipal levou uns oito anos e para tanto foi montado um escritório provisório no canteiro, de onde Ramos coordenava diariamente a equipe in loco.

(BUENO, B. P. S. 2018, p. 297)
Palácio dos Correios e Telégrafos

Três volumes compõem o edifício. A marquise de ferro é a marca do acesso principal e teve nas oficinas do Liceu de Artes e Ofícios sua beleza forjada em ferro.

Palácio dos Correios e Telégrafos

No topo da fachada com traços neorrenascentistas repousa o icônico relógio que pode ser avistado de longe. O Palacete dos Correios e Telégrafos tem na fachada contribuições valorosas do Liceu.

Palácio dos Correios e Telégrafos
Palácio dos Correios e Telégrafos
Palácio dos Correios e Telégrafos
Palácio dos Correios e Telégrafos

Sob a batuta do mestre em serralheria Nicola Ardito, a oficina de serralheria do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo era, antes de tudo, um laboratório de experimentações a partir do conhecimento de mão de obra europeia. “C” e “T” são as letras que marcam a decoração das grades externas da caixilharia, símbolo da vocação do edifício para abrigar a sede dos Correios e Telégrafos. Os arcos plenos típicos do neoclássico emolduram as janelas, com os fechamentos metálicos ricos em ornamentos.

Palácio dos Correios e Telégrafos
Palácio dos Correios e Telégrafos

A mão-francesa sustenta a marquise de ferro, com tirante superior fixado na fachada. O candelabro esculpido na argamassa pigmentada marca o vértice de encontro das ranhuras típicas do neoclássico paulistano.

A idealização do Palácio vem do contexto de crescimento nacional do início do século XX, com investimentos e incentivos públicos em infraestrutura de transportes e comunicações para modernizar o país. Para atender a uma população que crescia e demandava por mais eficiência no serviço postal e telegráfico, o governo do Estado de São Paulo financiou a construção do edifício dos Correios. Dessa forma, as pessoas seriam atendidas em um prédio único e não mais em imóveis alugados e espalhados pelo centro da capital paulista, como acontecia anteriormente.

Construído em estilo eclético em uma área de 15 mil m², o prédio conta ainda com as linhas neoclássicas e influências renascentistas que caracterizavam os projetos de edifícios públicos do Escritório Técnico Ramos de Azevedo. O interior do Palácio segue o mesmo estilo nas fachadas e apresenta um grande hall, escadas, elevadores, tetos envidraçados e grandes salões. Toda a serralheria artística da fachada foi feita pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, assim como as gaiolas dos elevadores, os guichês de atendimento e as caixas postais.

O plano Freire-Bouvard remodelou assim a cidade, dando-lhe duas fachadas, ornamentando-as com belos novos ícones, como o Palácio dos Correios e Telégrafos (inaugurado em 1922), o Palácio das Indústrias (inaugurado em 1924), o Mercado Municipal (iniciado em 1925), o Palácio da Justiça (iniciado em 1926) e o Palácio do Comércio (terminado em 1930), todos assinados pelo escritório de Ramos de Azevedo e pelo Liceu de Artes e Ofícios.

(BUENO, B. P. S. 2018, p. 181)

Na década de 1910-20 o Parque Anhangabaú ganhou a sua feição mais notável. O belo parque, projetado por Bouvard, contava com edifícios bem integrados no que se refere a implantação e escala. O conjunto apresentava admirável harmonia.

(TOLEDO, B. L., 2004, p. 135)

À época, quando estava à frente da Diretoria de Obras Municipais o engenheiro Vítor da Silva Freire, passava por São Paulo, entre o trajeto França-Argentina, o urbanista Joseph-Antoine Bouvard. Contratado em 1907 pela prefeitura de Buenos Aires para redesenhar a capital argentina, Bouvard foi chamado pelo prefeito barão Raymundo da Silva Duprat. Ele acabou contratado para traçar o alargamento da Rua Líbero Badaró e desenhar o Parque do Anhangabaú. O francês seria responsável, ainda, pela proposição de um novo Centro Cívico, depois alterado para Praça da Sé, e pela criação do Parque da Várzea do Carmo (hoje Parque Dom Pedro II).

O Palácio dos Correios é predominantemente neoclássico, com traços renascentistas. Divide-se em três volumes, que podem ser observados na fachada. Na fachada central, que fica de frente para a Praça Pedro Lessa, as janelas do segundo e do terceiro andar são emolduradas por colunas. Já a lateral voltada para a avenida São João tem janelas estreitas, com tratamento diferenciado nas vergas. No terceiro pavimento, as janelas têm finalização em arco pleno, que integram o conjunto das aberturas inferiores dando a impressão de uma única abertura. O conjunto é adornado no topo por cornija e frontões decorados. O bloco principal tem no alto um relógio cercado por duas figuras humanas. Capitéis dóricos marcam o topo das colunas na entrada do prédio.

Palácio dos Correios e Telégrafos

Embora descaracterizada por conta das sucessivas reformas e mudanças de uso, a área interna do prédio ainda preserva o esplendor original em ornamentos dos capitéis, na base das colunas de granito e na iluminação que reforça o encontro dos arcos do forro com a base estrutural do palacete.

Nicola Ardito (Itália, 1895c. – São Paulo, 1965c.) veio criança para São Paulo, trabalhou na serralheira do Liceu como operário, tornando-se contramestre de [Giacomo] Cadrobbi e, depois, substituindo-o. Permaneceu uns cinquenta anos nas oficinas de serralheria do Liceu, orientando desenhistas. Participou das obras do Theatro Municipal de São Paulo, dos Correios e Telégrafos, do edifício da Light, da Penitenciária (realizando camas de ferro dobráveis, fechaduras, grades) e da produção de inúmeros portões de ferro batido para residências particulares.

(BELLUZZO, A. M. 1988, p. 403)

A base do conjunto é revestida de granito. A fachada do Palácio dos Correios é toda revestida de argamassa pigmentada, com ornamentos produzidos no Liceu. Chama a atenção a marquise de ferro que se lança sobre a passagem, marcando o acesso ao palácio. Toda a serralheria utilizada no prédio foi feita pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. O italiano Nicola Ardito, contramestre de serralheira no Liceu, coordenou as equipes de desenhistas para o desenvolvimento da caixilharia e dos demais elementos metálicos da fachada do edifício.

No interior da construção, as paredes receberam pintura sobre argamassa lisa, sendo que apenas alguns pilares apresentam duas cores, seguindo a lógica da base de granito e do fuste argamassado.

Por seis décadas o edifício foi a sede dos Correios em São Paulo. Nesse período, houve duas grandes reformas, sendo a primeira em 1950 e a segunda no final dos anos 1970, quando o palácio foi tombado pelo patrimônio histórico da cidade. Outra intervenção aconteceu em 1997, com base em um projeto vencedor de concurso nacional de arquitetura.

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