Um palácio digno do Liceu
As muitas faces de um edifício neorrenascentistaConstruído entre 1896 e 1900, o palácio que hoje abriga a Pinacoteca do Estado foi projetado pelo Escritório Técnico Ramos de Azevedo. O imponente edifício que emoldura o Jardim da Luz e se destaca dentre a silhueta dos prédios da Avenida Tiradentes foi projetado em parceria com Domiziano Rossi, em estilo monumental, fortemente inspirado nos princípios do neorrenascentismo italiano. Inaugurado em 1900, foi a casa do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, quando começaram a funcionar em suas dependências alguns cursos de instrução profissionalizante e artística destinados às classes trabalhadoras.
(Antiga sede do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo)
Rossi, arquiteto italiano radicado na cidade, fora contratado em 1894 para dar aulas de Projetos de Composição, Desenho à Mão Livree Trabalhos Gráficos na Escola Politécnica de São Paulo, sendo mais tarde inspetor e diretor do curso de artes do Liceu, com status de sócio no Escritório Técnico Ramos de Azevedo. Domiziano foi responsável por projetos assinados pelo Escritório, entre eles o próprio edifício do Liceu de Artes e Ofícios [hoje Pinacoteca do Estado], o Palácio das Indústrias, o prédio dos Correios, fazendo inclusive o detalhamento do Teatro Municipal de São Paulo.
(CARVALHO, F. M. C., 2019, p. 135)Projeto original da fachada do palácio que abrigaria o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, instituição que formava técnicos e artesãos para construir as cidades que se enriqueciam com o café em todo o Sudeste do país. Originalmente, o palácio teria uma cúpula central, jamais concluída.
Oficinas de serralheria (à esquerda) e marcenaria (à direita ) ocorridas no Liceu de Artes e Ofícios na primeira metade do séc. 20 | Acervo fotográfico para a Exposição Histórica no novo CCLAO (Divulgação)
A instituição então denominada Sociedade Propagadora da Instrução Popular foi criada em 1873 por um grupo de aristocratas produtores de café com o objetivo de formar mão de obra especializada para a iminente industrialização do país, alinhada aos ideais positivistas que pregavam a dignificação do homem através do trabalho.
Num primeiro momento, não pretendia promover educação profissional: lecionavam-se cursos noturnos de Primeiras Letras e Aritmética, entre outros, para adultos e crianças. “Desde essa época, porém, já existia um Conselho Superior (presidido pelo Conselheiro Leôncio de Carvalho) que representava a elite paulista do período. Passados sete anos, o Conselho Superior decidiu pela reformulação da matriz pedagógica e sua transformação em uma escola”, explicou em 2018 Denise Mattar, curadora da exposição alusiva aos 145 anos do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.
A escola não possuía uma sede própria. Apoiava-se, no entanto, em diretrizes europeias dos Liceus de Artes e Ofícios (as Arts & Crafts Schools idealizadas por William Morris). O movimento das Arts & Crafts (artes e ofícios) já ocorria na Europa há algum tempo e pregava a valorização do trabalho manual do artesão na indústria capitalista.
Com a adoção do nome “Lyceu de Artes e Officios”, a escola passou a ministrar cursos de marcenaria, serralheria, gesso, desenho, entre outros. A partir de 1890, assumiu a direção do Liceu Francisco Paula Ramos de Azevedo, responsável pela reforma curricular e administrativa da escola que a faria prosperar.
As floreiras de bronze que adornam os topos da escada de acesso ao pórtico foram produzidas pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.
Inicialmente construído para abrigar o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, o edifício hoje ocupado pela Pinacoteca do Estado foi projetado em 1986 pelo engenheiro e arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo. Em 1900, com a estrutura da construção finalizada, o prédio recebeu os primeiros cursos. Pouco depois, em 1905, a Pinacoteca era instalada no local, ocupando apenas uma sala no terceiro piso.
(FASSA, G. 2007)O edifício foi criado no final do século 19 para abrigar o Liceu de Artes e Ofícios. Seu desenho saiu da prancheta de um dos idealizadores da corporação, o arquiteto Ramos de Azevedo. Depois de a Pinacoteca ocupar o espaço e dividi-lo com uma faculdade privada, o prédio ganhou uma nova configuração espacial para abrigar inteiramente a instituição cultural pública, destinada a exposições de artes visuais.
(SERAPIÃO, F. 2017, p. 264)Em 1905, de modo simultâneo às atividades educacionais do Liceu, o espaço acolheu a Pinacoteca do Estado de São Paulo, museu de artes plásticas mais antigo da cidade. Com o propósito de ser uma galeria, a instituição foi fundada pelo poeta e mecenas Freitas Valle, pelo político Sampaio Vianna, pelo engenheiro Adolpho Pinto e pelo próprio Ramos de Azevedo, que acumulou a direção do Liceu e da Pinacoteca entre 1905 a 1921. Conforme afirma Oliveira (2014), em seus primeiros anos foram organizadas as duas primeiras exposições brasileiras de Belas Artes (1911 e 1912), a Exposição de Arte Espanhola (1911), a Exposição de Arte Francesa (1913), além de mostras individuais. “Nesta época, seu acervo tinha 59 obras de artistas consagrados, como Antônio Parreiras, Benedito Calixto, Oscar Pereira da Silva e Almeida Júnior”.
O edifício e suas obras sobreviveram a incêndios, à Revolução de 1930 e à Revolução Constitucionalista de 1932. A Pinacoteca também sediou, até os anos 1980, a Escola de Belas Artes. Em 1982, o espaço passou a ser utilizado exclusivamente como museu, com o tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat).
O lustre monumental chama a atenção até mesmo dos motoristas que passam pela Avenida Tiradentes. Com motivos florais, está disposto no centro do hall da antiga entrada principal do edifício.
O átrio central foi valorizado, na proposta de Paulo Mendes da Rocha, por uma estrutura metálica equipada com vidros insulados, para controle da incidência dos raios. O efeito da malha projetada valoriza a estrutura neorrenascentista de aberturas e eixos.
O edifício que abriga hoje a Pinacoteca do Estado tem antecedentes históricos de origem clássica. Projetado e inaugurado pelo escritório de Ramos de Azevedo em 1900, foi concebido para abrigar o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo e tem caráter monumental. É um belo exemplar neorrenascentista que destaca os materiais nobres, formas geométricas e regulares e organiza os espaços internos de uma forma racional.
Em 1905, de modo simultâneo às atividades educacionais do Liceu, o espaço acolheu a Pinacoteca do Estado de São Paulo, museu de artes plásticas mais antigo da cidade. Com o propósito de ser uma galeria, a instituição foi fundada pelo poeta e mecenas Freitas Valle, pelo político Sampaio Vianna, pelo engenheiro Adolpho Pinto e pelo próprio Ramos de Azevedo, que acumulou a direção do Liceu e da Pinacoteca entre 1905 a 1921.
O edifício e suas obras sobreviveram a incêndios, à Revolução de 1930 e à Revolução Constitucionalista de 1932. A Pinacoteca também sediou, até os anos 1980, a Escola de Belas Artes. Em 1982, o espaço passou a ser utilizado exclusivamente como museu, com o tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat).
(OLIVEIRA, A. 2014)Totalmente remodelado em 1993 pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, o edifício manteve aparentes os tijolos da fachada inacabada e optou por não completar a cúpula neorrenascentista prevista no projeto original. A intervenção respeitou a arquitetura original do edifício ao propor inserções metálicas em oposição à alvenaria tradicional, tornando evidentes os equipamentos anexados. São contribuições do Liceu ainda remanescentes as floreiras de cerâmica e bronze, o lustre monumental, corrimãos e o assentamento dos tijolos.
A nova estrutura adaptou a antiga construção alternando o eixo de acesso em 90 graus, o que fechou a entrada voltada para a movimentada Avenida Tiradentes, transformando-a num mirante, e abriu o acesso principal para a lateral, ao lado da Estação da Luz. O novo eixo é estabelecido por meio de um percurso que atravessa os pátios existentes com o auxílio de passarelas metálicas. O material, pintado de vinho e presente também em outros elementos novos, como os elevadores, dialoga com o antigo envoltório de tijolos e afirma a presença da intervenção. Completando a proposta, os pátios foram cobertos por grelha metálica e vidro translúcido.
(SERAPIÃO, F. 2017, p. 264)Totalmente remodelado em 1993 pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, o edifício manteve aparentes os tijolos da fachada inacabada e optou por não completar a cúpula neorrenascentista prevista no projeto original.
Velho e novo convivem em harmonia na Pinacoteca. As colunas neorrenascentistas de mármore emolduram o guichê na entrada, com iluminação contemporânea.
As salas de exposição recebem as obras de arte. Igualmente valorosa, a arquitetura de Ramos de Azevedo é emoldurada pelas janelas que se abrem para o pátio.
© Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo