0%
Theatro Municipal de São Paulo Theatro Municipal de São Paulo

Uma casa de espetáculos à altura

Ecletismo à paulistana: barroco, neoclássico e art nouveau

Inaugurado em setembro de 1911, o Theatro Municipal de São Paulo colocou a cidade no roteiro internacional dos grandes espetáculos, com apresentações de Maria Callas, Mikhail Baryshnikov, Ella Fitzgerald, Anna Pavlova, Isadora Duncan e outras estrelas mundiais da ópera e do balé. O projeto arquitetônico foi assinado pelo escritório Ramos de Azevedo, em colaboração com os italianos Cláudio Rossi e Domiziano Rossi, tendo sido abertamente inspirado na Ópera de Paris. A arquitetura externa ganhou traços renascentistas barrocos do século 17 e seu interior, colunas neoclássicas, vitrais, mosaicos e muitas obras de arte, entre bustos, medalhões e bronzes.

Theatro Municipal de São Paulo
Construção:
1903-1911
Estilo:
Eclético: neoclássico, neobarroco, art nouveau
Projeto:
Escritório Ramos de Azevedo
Localização:
Praça Ramos de Azevedo, s/n – São Paulo, SP

É Ramos de Azevedo quem vai montar um amplo escritório capaz de responder a todo tipo de solicitação, tanto particular quanto oficial. O operoso arquiteto organiza um escritório de importação de material e, para formação de mão de obra, funda com outras personalidades o Liceu de Artes e Ofícios, onde lecionam mestres mandados vir da Europa. Seus colaboradores são judiciosamente escolhidos, como Domiziano Rossi, coautor do projeto do Teatro Municipal e também docente do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Este arquiteto trabalhou 31 anos no escritório, acabando sócio da firma. Além do teatro, projetou o Palácio das Indústrias, o Palácio da Justiça, o Liceu de Artes e Ofícios (atual Pinacoteca) e inúmeros palacetes, sem menção do nome do autor do projeto.

(TOLEDO, B. L. 2004, p. 83-84)
Theatro Municipal de São Paulo

O esplendor da sala de espetáculos se dá justamente pela profusão de estilos reunidos. Florões despontam nos balcões com a serralheria cuidadosa e as camadas sobrepostas a cada nível das galerias. Sobre o palco, no frontão principal, está representado “O Nascimento de Vênus”, autoria de Alfredo Sassi, de Milão, Itália.

Theatro Municipal de São Paulo

O palco segue o modelo italiano, com a disposição dos balcões em forma de ferradura. O piso de madeira tem cinco estruturas metálicas ou pontes paralelas entre si, de dois níveis de piso cada, que atinge até sete metros acima da cota do palco. Seu comando eletrônico permite um preciso nivelamento do piso para a execução de espetáculos de balé. Para a ópera, torna mais fácil a montagem de cenários.

Theatro Municipal de São Paulo

A tapeçaria foi produzida nos ateliês do Liceu de Artes e Ofícios, que contou com a contribuição preciosa de artesãos trazidos especialmente para a função designada. O guarda-corpo, alinhado com a fileira de assentos, reproduz a sinuosidade típica do art nouveau.

Suas obras tiveram início em 1903, um momento em que as principais cidades do país, como Rio de Janeiro e São Paulo, à medida que eram remodeladas segundo os padrões europeus e a lógica haussmaniana, foram perdendo o ar provinciano do Brasil colonial. Enquanto duraram os trabalhos, Ramos de Azevedo despachou diariamente em um gabinete montado no canteiro de obras, para acompanhar tudo de perto.

Outro professor do LAO esteve diretamente envolvido no projeto e na viabilização do novo teatro: ‘...em 9 de março de 1909, o engenheiro e arquiteto Alexandre Albuquerque, funcionário do escritório Ramos de Azevedo e professor do Liceu de Artes e Ofícios, pediu autorização à prefeitura para a construção do Teatro Municipal.’

(AMADO, M. R. 2016, p. 123)

O Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo foi fundamental para a realização da obra ambiciosa. Contribuiu sobremaneira na produção do mobiliário, com ênfase nas poltronas da sala de espetáculo e tapeçaria, no trabalho de serralheria das grades, portas, portões e refletores. Além disso, produziu corrimãos e lustres de bronze do hall de entrada, bem como a caixilharia das fachadas.

No que se refere à urbanidade do edifício e sua inserção na paisagem à época, é interessante destacar a situação excepcional do monumento, já que, quando da sua construção e inauguração, encontrava-se em situação de domínio: em uma grande área descoberta, sobranceira ao Vale do Anhangabaú, no planalto de sua margem esquerda.

(AMADO, M. R. 2016, p. 262)

O Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo foi fundamental para a realização da obra ambiciosa. Contribuiu sobremaneira para a produção do mobiliário, com ênfase nas poltronas da sala de espetáculo e tapeçaria, no trabalho de serralheria das grades, portas, portões e refletores. Além disso, produziu corrimãos e lustres de bronze do hall de entrada, bem como a caixilharia das fachadas.

Theatro Municipal de São Paulo

Os arcos plenos da fachada são alusivos ao barroco evocado por Ramos de Azevedo. Atlas e Hércules suportam o balcão sobre a entrada do edifício. Esculpidos com base na obra original dos artistas Fanuchi & Ferrara (Casa Giovanni Piassa, em Milão), foram executados no Liceu de Artes e Ofícios. No topo, grupos escultóricos de bronze - Erato e cupidos (Amorinos) - evocam drama e inspiração amorosa.

Segundo registros de Ana Maria Belluzzo (1988), sob a batuta do mestre geral Paulo Gianini foram concebidas as carpintarias das portas e janelas do Municipal. Para o trabalho em metal, obteve-se colaboração internacional com a participação do alemão Gebruder Armburster (ferro artístico), Spinn e Sohn (bronze artístico e aparelhos de iluminação), do escritório francês Thiébaut Frères e do italiano Giovanni Piassa (estatuária). A oficina de tapeçaria do Liceu ocupou-se do estofamento do mobiliário.

Atuaram na serralheria, ainda segundo Belluzzo (1988): • Giacomo Cadrobbi: mestre da oficina de serralheira admitido pelo Liceu em 1909. O italiano recebeu em 1923, pelo Liceu, prêmio pela participação na Exposição Internacional do Centenário. Tem-se registro até 1927 de sua atuação na escola. • Nicola Ardito: também italiano, trabalhou na serralheira do Liceu como operário e tornou-se contramestre de Cadrobbi,substituindo-o mais tarde. Participou das obras do Theatro Municipal, dos Correios, do edifício da Light e produziu diversos portões para residências particulares.

O espetáculo inaugural foi a ópera Hamlet, de Willian Shakespeare. O público, formado pela elite paulistana, ficou deslumbrado com a decoração refinada e com a iluminação espetacular para a época – o prédio foi o primeiro a ser totalmente abastecido por energia elétrica, o que atraiu uma multidão para o local apenas para admirar as luzes acesas.

O saguão do Theatro foi palco para a Semana de Arte Moderna, em 1922, evento que teve como principal característica a valorização das produções artísticas e culturais nacionais. Os intelectuais que fomentaram a Semana de Arte Moderna, como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Heitor Villa-Lobos, deram início ao movimento modernista brasileiro.

Em mais de 110 anos de funcionamento, o Theatro Municipal de São Paulo passou por três grandes reformas. A última, em 2008, fechou o local por três anos. A casa de espetáculos foi reaberta em 2011 com palco remodelado, poltronas renovadas, restaurante e o Bar dos Arcos, no subsolo. Em 2012, foram criadas as instalações da Praça das Artes para abrigar os corpos artísticos e as escolas municipais de música e dança.

O saguão do Theatro foi palco para a Semana de Arte Moderna, em 1922, evento que teve como principal característica a valorização das produções artísticas e culturais nacionais. Os intelectuais que fomentaram a Semana de Arte Moderna, como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Heitor Villa-Lobos, deram início ao movimento modernista brasileiro.

Theatro Municipal de São Paulo

O Theatro Municipal tem implantação ortogonal, com 92 metros de fachadas leste e oeste e com 42 metros de fachadas norte e sul. Divide-se em três corpos: fachada - vestíbulo, escada nobre, salão, portaria, restaurante e dependências da administração; parte central - sala de espetáculo com seus corredores e galerias; o corpo posterior - palco e suas galerias laterais, camarins e salas de artistas. Possui nove pavimentos, sendo um subterrâneo, sete correspondentes aos planos e ordens da sala de espetáculo e/ou administração, e a cúpula central. Tem área total de 17 mil m².

Theatro Municipal de São Paulo
Theatro Municipal de São Paulo

No hall principal, o conjunto das colunas existentes pertence às cinco ordens: dórica, jônica, coríntia, compósita e toscana. As duas colunas (estilo Toscano) inteiriças de granito cinzento de ageado medem 6,20m de altura e 0,80 m de diâmetro. A escadaria em mármore tem 20 metros de altura, com a utilização de mármores italianos Verona e Siena na balaustrada e corrimão, Carrara nos degraus e Travertino nas paredes laterais.

Theatro Municipal de São Paulo

Inspirado na Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes, na França, o salão superior já abrigou eventos como as Vesperais Líricas, entre outros acontecimentos de relevância cultural. As portas de acesso ao salão são de bronze dourado e as de acesso às varandas são de madeira jacarandá. Os vitrais em estilo art nouveau representam elementos do teatro e da música.

Theatro Municipal de São Paulo
Theatro Municipal de São Paulo

Forjados nas oficinas de serralheria do Liceu, os corrimãos e guarda-corpos refletem a busca pela ornamentação precisa. Acompanham o detalhamento escultural das molduras de teto e parede e têm acabamento de madeira no topo.

Theatro Municipal de São Paulo

A riqueza dos detalhes se manifesta na caixilharia interna, produzida nas marcenarias do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Os motivos art nouveau se manifestam nos balcões e estão sobrepostos à balaustrada neoclássica, de mármore.

Theatro Municipal de São Paulo

Em todo o corrimão, os detalhes em ferro produzidos pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo emolduram os degraus, acompanhando o movimento ascendente.

Theatro Municipal de São Paulo
Theatro Municipal de São Paulo

O portal de acesso à sala de espetáculos foi esculpido em mármore branco com um sátiro central e duas cariátides laterais. Foi produzido por Lorenzo Massa em Florença, na Itália.

Theatro Municipal de São Paulo

O mármore de carrara se estende pelas escadarias, emolduradas pelo trabalho metálico das serralherias do Liceu.

Theatro Municipal de São Paulo
Theatro Municipal de São Paulo
150 Anos - Missão Excelência
© Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo