Um palácio ao estilo romano
Neoclássico e barroco juntos num só monumentoEm 1874 já funcionava na cidade de São Paulo a primeira sede do Tribunal de Justiça, na Rua Boa Vista, 20, na época denominado Tribunal da Relação de São Paulo e Paraná, com apenas sete desembargadores. Com a promulgação da Constituição de 1891, surgiu o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em um contexto de grandes transformações urbanas, políticas e econômicas do período.
Em razão do crescimento demográfico e da expansão do Judiciário paulista, fez-se necessária a construção de uma nova sede para abrigar o órgão público, com um projeto arrojado dos arquitetos Ramos de Azevedo e Domiziano Rossi. Entretanto, devido a problemas relacionados à demolição do quartel da cavalaria instalado anteriormente no local, somente em 1920 foi lançada sua pedra fundamental. O imponente palácio está localizado no coração da cidade, próximo à Catedral da Sé e de frente para a Praça Clóvis Beviláqua, remodelada em meados do século XX por conta das obras do metrô.
A Praça da Sé sempre teve papel de extrema importância na cidade. O antigo Largo de São Gonçalo, que passou a se chamar posteriormente Praça João Mendes, era ladeado por edifícios volumosos, além de sobrados grandes. Havia também ali a própria Igreja de São Gonçalo, a Igreja dos Remédios, o Teatro São José, a Casa da Câmara, a Assembleia Provincial e a Cadeia Pública. E onde hoje é o Palácio da Justiça – antigo fórum –, havia o Quartel da Legião dos Voluntários Reais.
(OVANDO JR, A. p. 40, 2014).A fachada do edifício, que se destaca ao lado da Catedral da Sé, esconde suntuosidade expressiva. Em consonância com a ornamentação da fachada neoclássica, o interior se revela ainda mais interessante. Na foto abaixo, vista da fachada do Palácio da Justiça, em harmonia com o paisagismo da praça.
Entre seus espaços, chama a atenção o Salão dos Passos Perdidos, o hall de circulação central onde o público permanecia à espera dos julgamentos que se realizavam em suas diferentes salas. Este ambiente é revestido de mármore de Chiampo, com o piso das escadarias de mármore de Carrara, corrimãos de mármore português amarelo e balaústres de bronze.
O prédio, em estilo neoclássico, exigia grandes espaços, o que tornou a obra pioneira no uso de estruturas metálicas. Sua fachada foi inspirada no Palácio da Justiça de Roma (Palazzo di Giustizia), localizado à beira do Rio Tibre. Projetado pelo arquiteto perugiano Guglielmo Calderini e construído entre 1888 e 1910, o edifício foi inaugurado pouco antes do início do projeto do Tribunal de Justiça de São Paulo, e foi um marco para a Cidade Eterna após a proclamação de Roma como nova capital do novo Reino da Itália. Com acabamentos luxuosos e ornamentado com figuras, cariátides e símbolos do Judiciário, o palácio foi inspirado no renascimento tardio e no barroco, e a utilização de estruturas metálicas foi pioneira no país. Em 1933 começaram as atividades no Palácio da Justiça, considerado um monumento histórico e tombado pelo Condephaat em 1981.
Entre seus espaços, chama a atenção o Salão dos Passos Perdidos, o hall de circulação central onde o público permanecia à espera dos julgamentos que se realizavam em suas diferentes salas. Este ambiente é revestido de mármore de Chiampo, com o piso das escadarias de mármore de Carrara, corrimãos de mármore português amarelo e balaústres de bronze.
Há, ainda, a Sala Ministro Manuel da Costa Manso, em homenagem ao magistrado paulista que ocupou o cargo de Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo de 1931 a 1933. Decorada com motivos clássicos gregos, inclui vitrais executados por Conrado Sergenicht Filho, que simbolizam as virtudes da Justiça. Todas as pinturas foram confeccionadas por artesãos italianos sob a orientação do artista Antonio Venccittore. O Plenário do Júri é revestido com lambris de madeira de lei, entalhada por artífices do Liceu de Artes e Ofícios. O teto é ornamentado com motivos renascentistas e tem ao centro uma claraboia com vitral e lustres de bronze e alabastro, que pesam cerca de meia tonelada cada.
Uma das instituições de ensino, arte e cultura mais notáveis de todo o estado, o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo completa, em dezembro de 2023, 150 anos de uma história que se confunde com a do próprio Tribunal de Justiça de São Paulo que, em fevereiro do próximo ano, também completa seu sesquicentenário. Boa parte do mobiliário do Palácio da Justiça, sede do Judiciário paulista, é fruto do trabalho artístico dos mestres e artesãos do Liceu ao longo da primeira metade do século XX.
(TJSP, 2023)Com cinco pavimentos, o Palácio da Justiça exibe um rebuscado conjunto de ornamentos neoclássicos e barrocos. Os capitéis dóricos dão acabamento ao fuste de granito vermelho das colunas, e o fechamento metálico dos guarda-corpos permite aos transeuntes debruçarem-se para observar o hall no piso térreo.
A construção do salão, assim como a de todo o Palácio da Justiça, foi uma empreitada épica. Sem os guindastes, já que a obra data do início do século XX, o transporte de Itu para São Paulo das 16 colunas de granito vermelho que ladeiam a salão correu por carroças de ferro. Pesando 15 toneladas cada, foram içadas com o uso de cordas e roldanas. As peças não são meramente decorativas, mas fazem a sustentação dos cinco andares do Palácio. [...] Algumas pessoas dizem que o nome ‘Salão dos Passos Perdidos’ decorre do som dos passos das pessoas que antigamente circulavam pelo local – e usavam sapatos com solado de couro – que ecoava pelo enorme saguão e por todo o prédio. No entanto, em entrevista publicada na segunda edição da revista Corregedoria em Foco, a coordenadora do Museu do TJSP, Maria Cristina Maia de Castro, afirmou que a sala já constava no projeto inicial de Ramos de Azevedo com esse nome. Segundo a servidora, a denominação não é um privilégio do Poder Judiciário paulista. Salas dos Passos Perdidos existem em diversos prédios públicos ao redor do mundo, entre eles os palácios da Justiça de Roma, Lisboa, Bruxelas, o Congresso Nacional da Hungria e em templos maçônicos.
(TJSP, 2015)Decorada com motivos clássicos gregos, inclui vitrais executados por Conrado Sergenicht Filho, que simbolizam as virtudes da Justiça. Todas as pinturas foram confeccionadas por artesãos italianos sob a orientação do artista Antonio Venccittore.
O Salão do Tribunal do Júri, desativado em 1988, atualmente é utilizado para eventos especiais da magistratura e palestras. Em 1995, foi inaugurado o Museu do Palácio, destinado a manter e contar a história do Poder Judiciário por meio de móveis, quadros, fotografias, livros raros e objetos utilizados em tribunais.
O trabalho do forro também revela o cuidado dos artesãos dedicados à obra. No mobiliário, entalhes reproduzem símbolos do Judiciário, como a tradicional balança. O objeto remete à postura dos juristas durante os julgamentos. O símbolo relaciona-se ao mito de Osiris, deus egípcio que, após pesar o coração dos mortos, julgava o destino que teriam. No entalhe abaixo, a balança está sobreposta a ramos de café, símbolo do poder econômico de São Paulo.
Conforme registro do TJSP (2020), o legado artístico do Liceu de Artes e Ofícios está presente no mobiliário, feito em madeira de lei brasileira, e nas peças em bronze, notadamente os lustres do prédio. “A Casa Conrado, o primeiro atelier de vitrais do Brasil, comandada por Conrado Sorgenicht Filho, confeccionou os vitrais que adornam o Salão do Júri, o Salão Nobre e outras salas do prédio.”
Entalhados por artesãos do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, os lambris de madeira de lei acompanham o traço necolássico da edificação centenária de 42.000 m2 de área construída.
© Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo